O kata é um dos pilares fortes do karate. Eu sempre digo que é como se fosse a enciclopédia de toda a técnica, cada um dos kata é como um livro que, se lido com foco e atenção, vai te levar a elevar, enormemente, a sua cultura.
Assim, é o kata ele carrega em si todo o conhecimento, mas é preciso foco e atenção para que seja bem entendido e mais que isso, o karateka precisa saber interpretá-lo, assim como o leitor a um bom livro.
Quem me despertou sobre este entendimento foi Sensei Sagara. Quase sempre, ele dizia algo no meio do treino que parecia distante do ensinamento do karate e às vezes, eu demorava a entender o que ele queria dizer.
Logo que me tornei um sensei, eu tinha o privilégio de receber, com frequência, o sensei Sagara no meu dojo. Ele vinha, a meu pedido, acompanhar o desenvolvimento dos treinos, dos alunos e me dar orientações. Era realmente, algo sublime para todos.
Certa vez, eu pedi que ele avaliasse um aluno muito dedicado que estava focado em fazer o exame para a Shodan. Na época, eu era um jovem sensei e o havia treinado com grande atenção em todos os detalhes do kata, tanto eu como meu aluno fizéramos nosso melhor.
Então, meu aluno apresentou o kata e o sensei sério observou, ao final, eu perguntei o que ele havia achado, afinal parecia perfeito. Sensei simplesmente disse: falta sentimento.
Sentimento? Para mim aquilo foi algo novo.
O que será que o sensei queria dizer com isso?
Então, fiquei atento. Nunca mais deixei de refletir sobre isso e percebi que a execução do kata necessita de sentimento, necessita da identidade, da marca daquele que o executa.
O kata é uma experiência viva, apenas válida se você realmente sentir o seu propósito, era isso que Sensei Sagara queria dizer e foi isso que compreendi anos mais tarde.
Por isso hoje eu digo, aprenda o kata, depois realmente o compreenda e mais tarde tenha ele tão presente em seu corpo que você poderá transparecer sua alma cada vez que o executar. Este é o propósito.